Criado na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, sistema possibilita que mais pacientes sejam aptos a receber implantes a preços menores.
Uma novidade saindo dos laboratórios da Faculdade de Odontologia de
Ribeirão Preto (Forp) da USP pretende restaurar funções dentais sem os
desconfortos das dentaduras e os riscos das cirurgias invasivas dos implantes
dentários convencionais. E tudo isso a um custo menor do que o dos métodos
atualmente utilizados.
A professora Andréa Cândido dos Reis, da Forp, criou um sistema
composto de mini-implantes e dispositivos protéticos e cirúrgicos com o qual
espera superar as principais dificuldades dessa área da clínica odontológica.
Para testar a ideia, reuniu especialistas de diferentes campos - da
engenharia de materiais à física e odontologia - que analisaram e comprovaram a
eficácia da técnica. Os pesquisadores acreditam que essa modalidade de
tratamento será mais acessível para a maioria da população.
As vantagens dos mini-implantes, diz a professora, estão na
eficiência dos seus dois milímetros de diâmetro, contra os 3,4 a cinco
milímetros dos implantes convencionais e, ainda, os dois a três milímetros dos
demais mini-implantes hoje comercializados. Às menores dimensões, os
pesquisadores acrescentaram formatos chanfrados e autoperfurantes, além de
modelos com broca helicoidal, também com função de corte.
Essas características, conta a professora Andréa, garantem redução
na quantidade de dispositivos para a instalação cirúrgica do implante (o que
diminui os custos, implicando custo final menor), dispensam a necessidade de
enxerto ósseo (comum nesses procedimentos) e minimizam o trauma cirúrgico. Por
ser pouco invasivo, causa menor dano aos tecidos da boca e “reduz o tempo e o
estresse, tanto para o profissional como para o paciente”.
Cerca de 16 milhões de brasileiros não possuem mais nenhum dente,
como mostrou uma pesquisa do IBGE em convênio com o Ministério da Saúde
divulgada em 2016.
Eficiência e apelo
ecológico
Os implantes dentários - colocação de um suporte de metal,
geralmente de titânio, no osso maxilar (abaixo do nível gengival) e que procura
substituir a raiz do dente - já são bastante conhecidos. Sobre eles o dentista
consegue montar dentes substitutos, “solucionando uma série de problemas
associados ao uso de próteses convencionais”, comenta a professora.
Entre esses problemas estão dificuldades na fala e na mastigação,
com menor absorção de importantes nutrientes; estética desfavorável e até
distúrbios psicológicos, como a baixa autoestima e exclusão social. É que a
prótese total convencional (dentadura) apresenta boa retenção e estabilidade na
parte superior, mas a inferior, “na grande maioria das vezes, é instável e
pouco retentiva devido às próprias características do tecido ósseo na região”.
Essa instabilidade dificulta a realização de atividades simples como conversar,
rir e, principalmente, mastigar, aponta a especialista.
Contudo, os implantes não são viáveis em todos os casos de falta de
dentes. Além de caros - o preço dos implantes pode ser até quatro vezes maior
do que o de prótese convencional -, a instalação das bases de metal requer
cirurgia e, comumente, enxerto ósseo. Já com os mini-implantes, o procedimento
é menos complexo, dispensa os enxertos e diminui riscos cirúrgicos,
“principalmente àqueles que têm saúde comprometida”, diz a professora.
O design das peças dos mini-implantes da Forp, com diâmetro
reduzido e formatos autoperfurantes, além de novos designs de roscas e
tratamento de superfície, ampliam ainda mais a acessibilidade ao tratamento.
Como a técnica reduz o número de dispositivos para instalação, também diminui o
tempo de cirurgia e recuperação do paciente. Segundo Andréa, esses fatores
facilitam e “ampliam consideravelmente” o número de pessoas aptas a serem
submetidas à cirurgia, tanto para fixar próteses maiores, como as totais,
quanto para próteses unitárias.
Como foi pensado para promover benefícios à saúde e acessibilidade
financeira, esse novo produto responde à outra questão que preocupa cada dia
mais a vida no planeta: a ambiental. “Uma vez que prioriza reduzir a utilização
de metais e polímeros em todas as fases de seu processamento, o método também
diminui a quantidade de resíduos que seriam descartados, e levariam décadas
para serem degradados”, argumenta a pesquisadora.
Todo o sistema desenvolvido no campus da USP em Ribeirão Preto,
mini-implantes e dispositivos para cirurgia e retenção de próteses, já está
patenteado. Os estudos que culminaram com a inovação fazem parte de projeto de
pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp) em parceria com o professor José Augusto Marcondes Agnelli, da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O trabalho também contou com a
participação da pesquisadora Mariana Lima da Costa Valente, que realiza seu
doutorado na Forp sob orientação da professora Andréa Cândido dos Reis.
Fonte: Jornal da USP